Manifesto

Considerações essenciais
Vulnerabilidade, riscos, mitigação, adaptação, resiliência nas áreas urbanas: destaques do 6º Relatório de Avaliação do IPCC (AR6, 2023)
- O aumento da temperatura global na década de 2011 a 2020, em relação às temperaturas observadas entre 1850-1900, foi de 1,1 ⁰C. Essa mudança ocorre devido em especial às emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) provenientes das atividades humanas e afeta todas as regiões do mundo, com destaque para as áreas urbanas. As comunidades socialmente vulneráveis, que historicamente menos contribuíram para essas mudanças, são as mais afetadas.
- Entre 2011 e 2020, impactos generalizados nos ecossistemas, pessoas, assentamentos e infraestruturas resultaram de aumentos na frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos, incluindo extremos de calor em terra e no oceano, eventos de precipitação intensa, secas e incêndios. Nas zonas urbanas, as alterações climáticas causaram impactos negativos na saúde humana, nos meios de subsistência e nas principais infraestruturas, com maior intensidade entre os habitantes social e economicamente marginalizados.
- Apesar do desenvolvimento de planos de adaptação ter aumentado desde o 5º Relatório de Avaliação do IPCC (AR5, 2014), um número limitado foi implementado, muitas vezes com foco restrito na redução do risco climático sem incorporar uma visão mais abrangente e transformadora para o longo prazo. A adaptação das cidades aos eventos extremos está longe do ritmo e alcance necessários. A maior parte delas são fragmentadas, de pequena escala e mais focadas em planos do que em implementação. As maiores lacunas encontram-se junto à população de baixa renda.
- O atual modelo dominante de urbanização é altamente dependente de combustíveis fósseis, consumo intensivo de energia e recursos naturais. Transformar as cidades para a mitigação e adaptação às alterações climáticas exige o envolvimento de múltiplas escalas de governança, incluindo governos e atores não estatais.
- Os setores de transportes e edificações são centrais para a mitigação das mudanças climáticas devido a sua participação nas emissões de CO². As edificações respondem por 21% das emissões, e desse percentual, 18% provêm da produção de cimento e aço. O transporte, por sua vez, está relacionado a 23% das emissões, das quais 70% são geradas por veículos rodoviários.
- O planejamento urbano pode reduzir o uso de energia em transporte entre 23% e 26% até 2050 se diminuir a necessidade de deslocamentos em massa ao aproximar as ofertas de habitação às de trabalho. A mudança da matriz energética para eletricidade deve priorizar o modal de transporte público e coletivo.
- Design integrado para a construção e retrofit de edifícios levaram a exemplos crescentes de edifícios com zero emissões líquidas de energia ou zero carbono em diversas regiões, indicando importante contribuição para alcançar a meta de carbono neutro (zero emissões líquidas de GEE) em 2050.
- As decisões de infraestrutura e expansão urbana ampliam as consequências das mudanças climáticas em todo o mundo. O rápido crescimento da área urbanizada e a supressão de vegetação aumentam o risco principalmente em áreas de inundação e deslizamento de terra, o que dificulta o desenvolvimento de baixo carbono para atender às necessidades sociais e promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs).
- As infraestruturas urbanas verdes e azuis podem mitigar as alterações climáticas através da captura de carbono, das emissões evitadas e da redução do uso de energia. As florestas urbanas, as árvores nas ruas, as superfícies permeáveis e os telhados verdes oferecem potencial para mitigar as alterações climáticas diretamente através do armazenamento de carbono e da indução ao esfriamento, que auxilia no combate às ilhas urbanas de calor.
- A infraestrutura precária ou localização em áreas de risco elevam, em curto prazo, a vulnerabilidade dos assentamentos humanos aos eventos climáticos extremos em proporção maior do que o próprio agravamento da crise climática. Nesses lugares, muitos dos riscos já são inevitáveis, mas podem ser moderados com adaptação.